Presidente da Câmara disse que não pode distribuir cestas básicas e, então, dá conforto e qualidade de trabalho para os vereadores

Katia Brembatti / Repórter

Poupar dinheiro não faz parte das práticas adotadas pela Câmara Municipal de Quedas do Iguaçu, cidade de 33 mil habitantes no Sudoeste do Paraná. O Legislativo gasta tudo que pode do orçamento anual de R$ 3,8 milhões e ainda mais – segundo informações oficiais, até restou uma dívida no ano passado. Entre as despesas estão uma série de regalias questionáveis e volumes expressivos. Em entrevista, o presidente da Câmara de Quedas do Iguaçu, Adilson Poleze (PSDB), disse que não pode distribuir cestas básicas e, então, dá conforto e qualidade de trabalho para os vereadores, alegando que está tudo dentro da lei.

As despesas aconteceram em plena pandemia de Covid-19, com uma série de restrições para eventos públicos e reuniões – e até mesmo suspensão de sessões legislativas. O presidente da Câmara disse que o município tem uma grande extensão – sendo um dos maiores da região – e que os vereadores visitam a zona rural, além de irem frequentemente a Curitiba e Cascavel. Aliás, não é possível saber pelo portal de transparência quais viagens ou deslocamentos foram feitos e com qual motivação.

Também as despesas com papel extrapolam os padrões aceitáveis para um município do porte de Quedas do Iguaçu. São cerca de R$ 5 mil mensais com folhas de sulfite. O valor é maior do que a despesa com esse material na Assembleia Legislativa do Paraná, que tem 54 deputados e cerca de 2 mil funcionários. Poleze afirma que vários vereadores não conseguem ler os materiais em mídia digital e que alguns documentos, como o plano diretor da cidade, têm 5 mil páginas. Ele afirmou também que, durante a pandemia, foram impressas atividades escolares para ajudar a rede educacional.

O presidente da Câmara também justifica os gastos chamativos com plastificação de documentos. Foram realizadas três licitações para a compras do material para proteger documentações como RG. Em 2019, foram 150 bobinas de plásticos de 60 metros cada, totalizando 9 mil metros suficientes para plastificar 75 mil documentos. Em 2020, foram adquiridas 18 mil unidades de plastificação de documentos tipo RG. Neste ano, uma nova compra para 18 mil itens. As quantidades seriam suficientes para plastificar os documentos de todos os moradores. Segundo Poleze, cada pessoa tem mais de um documento, citando inclusive o cartão SUS e a carteirinha de vacinação.

Na lista de despesas da Câmara de Quedas também foram registradas diárias, com cursos e viagens, que somam cerca de R$ 40 mil em 2021. Um único evento em Curitiba teria tido a presença de sete dos 13 vereadores da cidade. Nem todos os registros de despesas puderam ser consultados – é que o portal de transparência está com problemas desde setembro, como o próprio site da Câmara reconhece, em uma mensagem de aviso.

 

Foram compradas 20 carteiras de couro, ao custo total de R$ 3,7 mil.

Materiais luxuosos e personalizados

Em agosto, a Câmara de Quedas do Iguaçu comrpou 20 carteiras de couro, com um brasão identificando que são vereadores, ao custo de R$ 3,7 mil. Também foram gastos, em junho, R$ 5,6 mil com a compra de 16 camisas sociais para os funcionários da Câmara e 24 jaquetas para funcionários e vereadores, todas as peças bordadas com o brasão do município. Poleze afirma que as peças fazem os representantes de Quedas de Iguaçu se destacarem quando participam de reuniões em outras cidades.

A equipe da RIC Record TV acompanhou uma sessão, que é semanal, realizada às segundas-feiras. Os 13 vereadores são recebidos com um lanche. Em 2021, já foram gastos mais de R$ 5 mil com salgadinhos e bolo. De despesa em despesa, mesmo quando pequenas, o resultado é que não sobra nada – a prática de devolver parte do orçamento, como acontece em outras cidades, não é adotado em Quedas do Iguaçu. Segundo declarações do presidente da Câmara, até faltou dinheiro. Ele afirma que quando assumiu o cargo, no início deste ano, havia R$ 280 mil em dívidas. Vários questionamentos feitos pela reportagem não foram respondidos pelo Legislativo local.

 

Assista à reportagem:

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