Conversando com meu cavalo

Esses dias estava de prosa com meu cavalo, certa hora descambou pra pandemia a conversa. Disse ele que não entendia as cousas lá da cidade, usando pano na cara quando levanta, tirando quando senta e amontoando quando viaja.

Indagava se isso era certo, se havia convicção nas letras dos tais decretos ou se faziam por pura ignorância, trancar o povo nas casas como se fosse animal “gavião”.

Disse mais, perguntava se era certo, matar o rebanho de fome, trancado na mangueira, por medo do carrapato. Se não devia soltar os fortes para pastar livremente e cuidar dos doentes.

Se a doença que existe não tem como cercar com o arame, porque criar cercas e piquetes dando vazão ao poder, se não pensavam que a fome é a pior das doenças.

E as indagações campeavam pela fala do meu cavalo, martelando em minha mente, gritavam em meu ouvido, como se eu fosse demente. Assuntei cada palavra do amigo, enquanto fitava o morrer do sol.

Depois, dei um bom bocado da ração ao conselheiro da vida, tirei-lhe o buçal, larguei que fosse campo à fora.

Mais tarde, de regresso para a cidade, vi gente usando máscaras, lambuzando as mãos em álcool, sorrateiros por trás de grades, assustados, vigiando.

Pensei, tá certo o meu cavalo! Burro é outro!

Sir Carvalho

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