Tudo igual, mas tá diferente, parece que tudo mudou, o catador na rua é o mesmo, mas segue o povo na alegria.

O doente que espera a vaga geme, mas o adereço brilha na rua da amargura, firula sem dó, na garganta dá um nó.

O menino sem lar continua, mas o que reza, entope de doces, sorri pela bondade momentânea, espontânea, para depois empanturrar na ceia.

Noeis coloridos, importados, dançam com dinheiro do povo, engodo, e o fruto da corrupção desfila carrão, sem noção, já matou o irmão.

A praça decorada, a torneira seca sem água, da Vila afastada, a conta salgada da companhia na mesa, se vai pagar, não é certeza.

A lustrosa barriga do político, sua madame esticada no salão, pés e mãos fabricadas a pincel, um docel, tá contente, se vai preso, fica doente.

O vereador, professor das promessas, fatiando a esperança, despachando da fila de espera, doença, vende esperança.

O prefeito, mau sujeito, quer comissão, mais um elo, sem paralelo, no feudo da ambição.

O deputado, senhor escolhido, sem assinar, define destinos, engorda contas bancárias, sem plantar, coleciona laranjas.

O soldado, sem colete, sem perguntar, protege todos, silente.

O agricultor, pele queimada, nem é lembrado na hora da comilança.

O lixeiro limpa a lambança.

Sir Carvalho

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